sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

Promessas de fim de ano, educação moral e progresso do espírito



Como todo final de ano, é hora das promessas para alteração da vida no ano novo. Expectativas de mudança de emprego ou de conseguir um, de casa nova, de relacionamento para os solteiros, de melhoria das relações para os compromissados, parar de beber, parar de fumar, curar-se de doenças, de malhar mais e deixar o corpo em forma, de emagrecer, economizar...
Enfim, todo ano é a mesma coisa... Uma extensa lista de promessas a serem cumpridas.  As intenções são boas, mas, ao desenrolar dos dias, caem no esquecimento. Os fatores são diversos, desde a preguiça para engendrar a transformação à falta de tempo para promover as mudanças prometidas.
Percebe-se, entretanto, que todas essas mudanças tem ligação com outra mais profunda e esquecida, não só no final do ano como em todos os dias de qualquer ano, a educação moral, que logrará a tão falada reforma íntima que, quando levada a efeito fará com que, não precisemos mais de promessas de fim de ano, pois ela será natural, sem dores, praticamente imperceptível.
O amai-vos e instrui-vos é conhecido de todos os que lidam no movimento espírita, porém, bem poucos entendem que o seu real significado está ligado ao entendimento de que para evoluir é necessário estar imbuído de estudos sobre os procedimentos essenciais e ter consciência sobre a necessidade de evolução.
A Doutrina Espírita tem entre as suas atribuições ajudar o homem a realizar a sua transformação moral, mas, essa atitude passa por compreensões maiores do que possamos supor. A primeira delas, é que carregamos certos vícios dos quais podemos não nos orgulhar, mas temos grandes dificuldades em extingui-los por estes já terem percorrido uma boa parte da vida alimentando nosso ego com mil e uma justificativas para mantê-los.
Sendo um dos temas mais debatidos no meio espírita, a reforma moral é também das mais complexas a ser colocada em exercício efetivo na vida até mesmo dos espíritas, que engordam as fileiras de promessas de final de ano, esquecendo-se que para alcançar transformações mais profundas, na vida material, é preciso consertar as estruturas que não se vê, as subjetivas, representadas pelo senso moral.
Mas, o que é moral, qual a necessidade dessa reforma?
A questão moral passa essencialmente pela ética que é o conjunto de valores, hábitos e costumes de uma cultura ou sociedade, interpretada pelos romanos como moral. A Ética é parte da Filosofia, seus estudos dizem respeito aos valores que o ser humano emprega em sua conduta para que possa alcançar a felicidade. A Ética está ligada à distinção entre o bem e o mal; entre o que é e o que não é proibido, entre o lícito e o ilícito.
Nesse sentido a educação moral vem criar condições para que saibamos como agir, de modo consciente e racional, para uma mudança comportamental quando despertamos para a necessidade de eliminar os pontos negativos que ainda reinam no espírito.
Reforma moral é um processo ininterrupto na busca pelo conhecimento de si mesmo e consequentemente de renovação de estruturas antigas, substituídas por novos paradigmas que levem o espírito a atingir o tão desejado progresso e equilíbrio.
Nesse esquadrinhamento do íntimo pela superação dos vícios e distúrbios a vivência evangélica é fator primordial que ajudará a eliminar os males do passado e a evitar outros no presente e no futuro.
Assim como as promessas de final de ano tem como propósito um estado de felicidade, este também é o objetivo da promoção da reforma íntima, que, entretanto, tem um alcance muito maior que meramente o âmbito material, apesar de atingir também este. A reforma moral tem seu raio de ação nas profundezas do espírito levando-o à consciencialização de que ele é o artífice de seu destino a partir de sua conduta.
Reformar-se moralmente envolve promessas de transformações que nunca fazemos que é mudar interiormente e que requer estarmos cientes das Leis Divinas, e por esta ser uma realidade ainda distante para muitos, sequer conseguimos cumprir simples promessas de fim de ano. Quando tivermos maturidade suficiente para entender que o alcance de uma vida material de realizações requer mudanças de atitudes mentais e espirituais, seremos mais felizes.
A reforma íntima tira os homens das cinzas, mostra a realidade da vida espiritual. É um processo lento, gradativo, esclarecedor, amplia as potencialidades do espírito para a vida imortal e neste momento é que a abertura para as verdades eternas se farão e não mais haverá promessas de fim de ano que fiquem sem cumprimento. Impregnados de bem estar perceberemos que a reforma íntima é quem cura os males do espírito legando ao corpo novas concepções para a vida na Terra.
                                  
                                   Feliz 2017!



sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

domingo, 18 de setembro de 2016

Santo de casa não faz milagre?

Proliferam os grandes eventos nas casas espíritas de todo o Brasil. São semanas espíritas, seminários, jornadas e outros que levam nomes de obras espíritas ou de grandes vultos como Allan Kardec e Chico Xavier. Até ai tudo perfeito, pois esta é uma das melhores formas de divulgar, para um grande público, o conhecimento legado pelo Espiritismo.

            Este modismo, em alguns lugares, tornou-se inclusive evento social, já esperado todos os anos, pelo esfuziante espetáculo que promovem com a presença de músicos, de palestrantes famosos, da mídia local, sorteios de livros isso para não falar nas recepções regadas a comes e bebes para receber o célebre orador.

            Antes mesmo do evento, o ilustre já é entusiasticamente esperado devido ao grande alarde feito, nas casas espíritas promotoras do evento, através de propagandas reiteradamente jogada nas mentes dos que frequentam as reuniões, com power points automaticamente repetidos, folders com fotos e o imenso currículo do indivíduo, que na grande maioria das vezes, de experiência e conhecimento espírita mesmo, não tem nada o que fica claramente demonstrado, quando, na hora “h”, o “enrolation” fica patente: cantam (não que tenha nada contra a música, há palestras espíritas cantadas que são muito boas, outras, nem por isso...), leem slides, dão foras históricos homéricos, põem o ego em evidência o tempo todo expondo suas vastas qualidades, fazem megas apresentações que não se vê nem mesmo em palestras motivacionais – abrem os braços, pulam, rodam, apontam o dedo, contam piadas - entre outras manifestações exacerbadas aplaudidos com paixão pelo público incauto e iludido pelos títulos apresentados. Isso para não esquecer os que estão interessados apenas em enfiar nesse mesmo público desprevenido seus CDs e livros, muitos de conteúdos questionáveis.

            Porque nos grandes eventos das casas espíritas os palestrantes locais ou da região circunvizinha não são convidados para apresentar um exórdio? Será que há um separatismo institucionalizado pelos dirigentes que colocam do lado esquerdo “os de dentro” que só estão aptos para as palestras do dia-a-dia e “os de fora” que notadamente famosos merecem o destaque na ilustre noite da casa espírita?

            Pelo nível de muitos palestrantes “de fora”, como se diz popularmente estamos sendo trolados... Mas ao que parece há uma cegueira geral dos dirigentes que não percebem ou não querem perceber a falta de qualidade de certos indivíduos que tem suas passagens e hospedagens devidamente pagas com o dinheiro daqueles a quem enrolam. Ou então é porque julgam que só haverá casa cheia se o palestrante for alguma celebridade. E neste ponto encontramos a grande falha das casas espíritas, pois se até mesmo os frequentadores corriqueiros, só aparecerão se houver espetáculo, é porque não estão cumprindo devidamente com seu trabalho de esclarecimento, nas reuniões públicas ou de estudos, sobre o que é o Espiritismo. E mais, casa cheia de encarnados leva por água abaixo o clássico discurso de que creem que o Cristo estará presente mesmo que só tenham dois ou três na assistência.

Que há muita gente boa, isso não se coloca em dúvida, mas há também pseudos palestrantes espíritas vestindo pele de cordeiro. Afinal, será que julgam que o palestrante local não tem capacidade para apresentar um tema em um grande evento? Se põem em dúvidas a capacidade dos companheiros que estão na luta diária a resolução é simples: capacitação, curso de oradores, curso de didática coisa que muitos famosos de fora parecem que nunca viram.

            Vamos acabar com essa história de que santo de casa não faz milagre, está mais do que na hora de fazer uma triagem entre os oradores que subirão ao púlpito espírita. Mentes brilhantes, com conhecimento espírita e em outras áreas e com grande poder de oratória estão em nosso convívio. Aprendamos rapidamente a perceber que há palestrantes que de Espiritismo mesmo só conhecem o nome... Confundem “alhos com bugalhos”, apresentam o tema sob o prisma de seu parco entendimento e o Espiritismo vira apresentação circense.  

            Ao que tudo indica, os dirigentes espíritas estão se deixando levar pelos aplausos da massa que também não conhece Espiritismo, mas que vê naquele espetáculo a face oculta de Deus... Onde estão os trabalhadores da casa, que percebem o mal caratismo de certos oradores? Estão se melindrando por quê? Porque são coagidos ou porque caem no conto piegas de que será falta de caridade apontar a falha do outro? Falta de caridade é deixar que shows deprimentes disfarçados de palestras, sejam vistos pelos neófitos como Espiritismo; falta de caridade é levar o nome de Kardec à lama pela falta de pudor dos que nada constroem em termos de Doutrina e de vida.

            Tenhamos em mente que não é fama, nem vínculo a algum núcleo espírita e nem tampouco currículo extenso que dá conhecimento a alguém e que palestra espírita não tem que se transformar em espetáculo para inglês ver. A palestra espírita, do dia-a-dia ou de grandes eventos, não é uma mera oratória, é uma aula, precisa e deve ser contextualizada, bem elaborada, pedagógica quer tenha cunho científico, moral, filosófico ou mesmo misto. É uma mensagem que precisa e deve ser levada com seriedade e simplicidade para que o público possa ter um bom entendimento. De nada adianta encher os olhos e os egos de pompa e ostentação e deixar a alma carente do conhecimento verdadeiro que leva à libertação. Herculano Pires dizia que as pessoas esperam que a casa espírita seja um templo com pregações religiosistas e de adoração e agora podemos também acrescentar que se esperam majestosos espetáculos em que sobressaem o glamour e a falta de objetividade.

domingo, 12 de junho de 2016

Invigilância

A falta de vigilância daqueles que zelam pela causa espírita tem atingido altos pontos no quesito negligência.  Para o bom entendimento, vigilância significa atenção, zelo, precaução, cuidado. E ao observarmos os rumos do Espiritismo, percebemos claramente que esta é artigo totalmente em falta.
Falada por alguns e desdenhada pela maioria, por acharem ser uma atitude sem importância, a falta de cuidados levou as crendices a adentrar as casas espíritas, muitas vezes disfarçadas de caridade que leva os incautos a acreditar que estejam evoluindo através da bondade. As crenças foram veementemente combatidas por Kardec, que apostou na razão como forma de rechaçar as superstições.
Quando não se leva em consideração os avisos, fatalmente as situações negativas ocorrem levando todos para uma suprema derrocada. O desconhecimento do significado da palavra vigilância leva desmesuradamente à invigilância, e isso é tão óbvio que se torna até ridículo explicar. Entretanto, nem tudo o que parece ser lógico realmente o é, e isto se torna verdadeiro quando damos de cara com espíritas empanturrados de filosofia e moral para os outros, mas que não aplicam a si mesmos.
Os centros, que deveriam primar por ser um espaço de estudo e divulgação do Espiritismo, foram transformados em locais onde as práticas de curandeirismo são a principal atividade além da intensa troca de favores que ocorre descaradamente. Mediunismo e mensagens supostamente espirituais onde os elogios ao médium que psicografa são o ponto em alta e as recomendações de Kardec para os devidos cuidados com a idoneidade dos espíritos e dos próprios médiuns, em baixa.  
A falta de precaução e estudos coloca à frente das casas espíritas pessoas despreparadas, totalmente ignorantes em relação ao Espiritismo do qual só conhecem, e mal, a mediunidade. Para todos os que procuram a casa com alguma necessidade, o mesmo diagnóstico, obsessão. Participantes de grupos de estudos são retirados dos mesmos sob a justificativa de que é médium e de que precisa participar da reunião mediúnica, como se uma coisa inviabilizasse a outra. E assim vão-se formando médiuns pautados na ignorância pela falta de estudos. Futuramente, repetirão seus “lideres”.
 No púlpito palestrantes artistas que apresentam um belíssimo espetáculo no melhor estilo religioso-motivacional. A cena seria cômica se não fosse patética. O aparelho de som aos estardalhaços e o dito palestrante a abrir os braços e a correr de um lado para o outro, mas parecendo um pavão. Isso para não falar nos falsos palestrantes que nada entendem da Doutrina Espírita e não escondem que nunca nem viram a capa de O Livro dos Espíritos...
 Devido à invigilância dos que se julgam profundos conhecedores da intimidade dos espíritos, as casas estão entregues a velhacos que dão brechas a espíritos de caráter duvidoso, levando o Espiritismo à falência pela extrema inércia do movimento que permite o desvirtuamento e a fraude em nome de uma pretensa irmandade.
A fórmula para a mudança vibratória e para acertar o passo na Doutrina, entendendo-a como Kardec a colocou é bem simples, vigilância, o que implica boa vontade e para se ter a boa vontade é preciso estudo e para estudar é preciso muito mais que fazer parte de grupos, é preciso saber aproveitar os conhecimentos adquiridos na melhoria de si mesmo.
Mas não há um rigor nos estudos nos núcleos espíritas no sentido de levar o indivíduo a perceber a necessidade de trabalhar a si mesmo, ninguém na verdade dá a mínima para os conselhos de Kardec e também não conhecem esses conselhos, pois nunca leram a Codificação e a prova disso é a penetração de pretensos médiuns que recebem também pretensos espíritos de artistas famosos.  A galera dos centros, na invigilância característica de cada dia, não só aplaude como incentiva o comércio dos quadros e outros objetos. Se tivessem o pudor de comparar assinaturas e obras desses artistas quando encarnados,  com as da suposta entidade espiritual, perceberiam as falhas.
E quem pode, dentro de um critério mínimo de razoabilidade, garantir que espíritos como Monet, Renoir, Van Gogh e outros ainda se encontram no mundo espiritual? E caso estejam, encontram-se à disposição de qualquer médium brasileiro? Logo, a conclusão é bem simplória, ou as pessoas no movimento espírita são extremamente ingênuas ou a falta de conhecimentos já ultrapassou todos os limites permitidos do bom senso. Por ai se vê por que as obsessões e as enganações permanecem e alastram-se de modo grotesco, pela falta de vigilância dos espíritas, o que comprova que os verdadeiros inimigos da Doutrina, aqueles que a estão detonando se encontram disfarçados na pele de fiéis trabalhadores. Tão “fiéis” que não percebem a diferença entre representação, imaginação e fenômeno mediúnico propriamente dito.


quinta-feira, 7 de abril de 2016

Melindre, radicalismo e consequências morais


Muito se tem falado sobre o melindre e o quanto provoca danos quando se manifesta. Apesar de muitos terem conhecimento a respeito dessa chaga moral, poucos realmente procuram trabalhar a si mesmos para que o mal do constrangimento não faça parte de suas personalidades e por isso, o melindre continua fazendo vitimas, destruindo laços de amizade e pondo em derrocada trabalhos que poderiam dar bons frutos, tanto dentro quanto fora da casa espírita.
O melindre aparece em qualquer circunstância, em todo e qualquer ambiente seja nas instituições de cunho filosófico ou religioso, no lar, no trabalho, entre vizinhos, entre novos e velhos amigos enfim, onde está o homem lá se encontra o melindre, em estado latente, e ao despertar de sua suposta hibernação provoca danos arrasadores.
Essa propensão para nos ofendermos facilmente e para fazermos de pequenos contratempos violentas tempestades, dorme no íntimo de todos e tende a estar em processo de ebulição naqueles que se julgam superiores e que, portanto supõem-se não estar no mesmo nível dos reles mortais, logo, seus desejos não podem ser contrariados, por achar que a razão é um instrumento pessoal seu.
O melindre nunca se manifesta só, traz consigo amigos também cruéis e nefastos: o orgulho, a falta de humildade e o radicalismo.
O fato de um pedido ser negado por um companheiro de jornada já é motivo mais do que suficiente para que o radicalismo melindroso se faça presente tornando o individuo rancoroso por achar que aquele que lhe negou a rogativa não é suficientemente bom para ser seu amigo e que precisa afastar-se dele.
O que o melindroso não percebe é que além de tudo ele é também egocêntrico, pois, visando apenas à realização de seus intentos, não pergunta ao outro se por acaso ele teria condições de ajudá-lo, não procura colocar-se no lugar do outro para perceber as suas limitações e dificuldades. Deveria refletir: se eu estivesse no lugar de “fulano”, com as responsabilidades que tem, teria condições de satisfazer os desejos de alguém? Até onde me seria possível ir? Quais as minhas limitações?
Precisamos nos conscientizar que nem tudo o que queremos poderá ser realizado, ainda mais quando esta realização irá depender de outros para que se efetive. Por mais amigos que tenhamos nem sempre eles poderão nos auxiliar e o Espírita, principalmente por ter acesso a informações que lhe mostram de forma clara a realidade da vida espiritual e material, deveria ter pleno conhecimento de que nem todos tem condições para tomar determinadas decisões. Quando queremos impor nossas vontades estamos sendo tão maniqueístas quanto os que criticamos por terem posições impositivas e manipuladoras. Não alimentemos o melindre, pois ele tem consequências morais devastadoras em nossas vidas, nos envereda por uma rede de negatividade e de ignorância que se tornam entraves à educação do espírito, logo à evolução, além de ser uma porta aberta para a obsessão.
Cobramos dos outros atitudes firmes, criticamos o que se  constrange entretanto agimos da mesma forma quando não somos o centro das atenções. Quais crianças, fazemos birra, porém, na criança a birra pela contrariedade sofrida logo passa, no adulto ela permanece e cria raízes malignas: ódio, solidão... Amigos deixam de se falar ao invés de procurar uma solução para o problema surgido; pais e filhos dão as costas uns aos outros e ficam assim por anos, chegando mesmo a desencarnar sem que a situação seja resolvida; irmãos deixam de se falar. O ego ferido, de acordo com Emmanuel é como um verme que destrói uma semente.
É importante nos darmos importância? Sim, precisamos cuidar de nós mesmos, porém tendo o cuidado de não ultrapassarmos limites achando que somos melhores que os outros. Essa falsa idéia de ser melhor é extremamente perigosa, pois nos deixa cheios de vaidades inúteis e não me toques que afetam a alma e o corpo físico levando-nos por vezes a quadros depressivos e ampliando o juízo de valor que nos incute que somos vitimas de injustiças e ingratidões.
Não devemos confundir favor com obrigação, ninguém tem a obrigação de nos prestar um favor, principalmente sem ter condições efetivas para isso, Respeitemos os limites do outro, suas dores, aflições e dificuldades. A tolerância, quando bem entendida é uma benção que nos faz agir com responsabilidade e com menos apego a nós mesmos. Tracemos um plano de varrer o melindre de nossas vidas, vigiando para que não se instale e procurando desfazer situações desconfortáveis que tem ele como pano de fundo.
Insegurança e baixa autoestima são estigmas provocados pelos melindres e pelo radicalismo de não querermos reconhecer quando erramos e permitirmos que a mágoa seja nosso guia. Quando criticamos e nos afastamos das pessoas por julgar que fomos desrespeitados e não procuramos entender as situações, que por vezes são criadas por nossas atitudes impensadas e desestruturadas, demonstramos que também não fomos amigo o suficiente do outro, pois se o fôssemos, entenderíamos sua posição.
Intrigas, mal entendido que parece irreversível e desânimos podem ser revertidos desde que o individuo procure conhecer a si mesmo e reconhecer seus erros. Mas para isso é preciso fortalecer-se espiritualmente, entender que a ofensa só existe porque ele permitiu que ela habitasse o seu íntimo.
Levemos em consideração, para todos os âmbitos de nossas vidas, seja na convivência no grupo espírita, na vida profissional, em família ou com amigos as recomendações que Kardec nos dá em O Livro dos Médiuns, no capítulo 24, para granjearmos a simpatia dos bons espíritos: que procuremos trabalhar em nós os vieses de consequências ruins transformando-os em condições morais favoráveis ao progresso espiritual.
Precisamos cultivar a perfeita comunhão de sentimentos, a cordialidade recíproca, a ausência de sentimentos contrários à verdadeira caridade cristã, entendendo caridade no sentido de utilidade e ter em vista um único desejo, instruir-se e melhorar-se conforme nos ensinou os espíritos superiores através de Allan Kardec.





segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará (João 8:32)



A frase que dá título a este artigo é bastante conhecida no meio espírita, porém, como conhecimento e entendimento não andam de braços dados, a distância entre um e outro é larga.
O conhecimento da verdade, de acordo com Nietzsche, só aconteceria quando o homem eliminasse as concepções pré-concebidas e reelaborasse seu pensamento sem as influências maniqueístas. Este processo, portanto, deveria levar o homem a perceber que grande parte de suas crenças foram impostas e que elas não faziam sentido algum. Esse método de desconstrução foi denominado por Nietzsche como niilismo libertador.
Como adeptos do Espiritismo, deveríamos estar atentos à questão do maniqueísmo e não nos deixarmos levar pelos muitos “ismos”, entre estes, as crenças pessoais que solapam a Doutrina Espírita transformando-a em uma ramificação do catolicismo. Podemos chegar ao disparate e afirmar que como bons espíritas, somos excelentes católicos.
O majestoso Herculano Pires clamava de modo veemente aos espíritas sensatos, algo que parece em falta no nosso movimento, que se posicionassem contra a avalanche de absurdos que invadiam a Doutrina Espírita e que abrissem a boca em alto e bom som explanando a verdade mesmo que doesse a quem quer que fosse.
Hoje no plano espiritual, certamente Herculano encontra-se perplexo, pois não só percebeu, de forma clara, conforme dito acima, que espíritas sensatos parecem ser artigo em falta no movimento como também pelo fato de ver que os que se dizem “espíritas” encontram-se nas redes sociais não só reafirmando os discursos irracionais como também repassando imagens de santinhos, anjinhos, procissões e correntes para atrair bênçãos e dinheiro e ainda por cima envoltas num manto ameaçador, pois quem se recusa a compartilhar terá cem anos de azar... Isso para não falar no comércio de escapulários de prata com retratos de Kardec, Chico e Bezerra. Catolicizou-se o Espiritismo, eis alguns dos nossos dogmas.
Onde está o conhecimento da verdade preconizado por Kardec? A falta de conhecimento e de entendimento devido às interpretações esdrúxulas é o verdadeiro farnel da ignorância, grandes causadores das intolerâncias e de rupturas no movimento espírita.
Kardec foi explícito ao explicar o que é o Espiritismo, mas como o hábito de trocar a leitura que traria o conhecimento verdadeiro, Kardec, por um romance água com açúcar com selo de psicografia é o que movimenta as mentes incautas, a verdade permanece nas sombras e assim permanecerá, enquanto os espíritas sensatos não levantarem a voz contra o tsunami de sofismas que se fazem presentes no meio espírita e ainda com direito a logomarca made in brazil para exportação.
Estamos verdadeiramente na caverna de Platão onde o único conhecimento aceito é o dos espectros na parede e aquele que se atreve a libertar-se e proclamar a verdade é repudiado tendo que esconder-se devido ao linchamento moral.
Vejamos algumas explicações, dadas por Allan Kardec, desconhecidas para alguns e escondidas por muitos no movimento espírita devido a interesses pessoais espúrios.
Na Revista Espírita de 1868, no discurso proferido por Allan Kardec, p. 491, cujo trecho transcrevemos abaixo encontramos: 
“Por que, então, temos declarado que o Espiritismo não é uma religião? Em razão de não haver senão uma palavra para exprimir duas idéias diferentes, e que, na opinião geral, a palavra religião é inseparável da de culto; porque desperta exclusivamente uma idéia de forma, que o Espiritismo não tem. Se o Espiritismo se dissesse uma religião, o público não veria aí mais que uma nova edição, uma variante, se se quiser, dos princípios absolutos em matéria de fé; uma casta sacerdotal com seu cortejo de hierarquias, de cerimônias e de privilégios;[...]”
E mais, na Revista Espírita de 1864, p. 270: “[..] Quem primeiro proclamou que o Espiritismo era uma religião nova, com seu culto e seus sacerdotes, senão o clero? Onde se viu, até agora, o culto e os sacerdotes do Espiritismo? Se algum dia tornar-se uma religião, é o clero que o terá provocado.”
Para os que ainda não se deram por satisfeitos, tomemos um trecho de O que é o Espiritismo, no diálogo entre Kardec e o padre no capítulo primeiro, quando este pergunta a Kardec se há uma fórmula religiosa para as evocações aos espíritos e Kardec responde que certamente haveria um sentimento religioso, porém sem fórmula sacramental, pois para os espíritos o importante é o pensamento, que são chamados em nome de Deus, que se faz apelo aos bons espíritos, porém sabendo da existência dos que ainda se comprazem ao mal e declara, “O que é que tudo isso prova? Que não somos ateus, o que não implica, de forma alguma, que sejamos religiosos.”
Assim, concluímos que há um clero na Doutrina Espírita que a transformou em religião e seus sectários, vem atuando desde o século XIX, quando o Espiritismo aqui surgiu, de forma ativa para manter esse status.
O Espiritismo, caso fosse uma religião, perderia seu caráter Universalista, pois assim o sendo concebe-se que congregue todos os sentimentos de religiosidade. O Espiritismo é uma Ciência e ciência não se ocupa com dogmas; é uma Filosofia de consequências Morais e, portanto, não religiosas.
Os muitos “ismos” que encontramos na Doutrina não passam de falácias e pieguismo de uma religiosidade implantada sem escrúpulos pelos que se comprazem em manter uma horda de ingênuos que dá lucro financeiro ao estimular suas idéias estapafúrdias.





sábado, 20 de fevereiro de 2016

No Limiar do Amanhã – Programa 120



O grande defensor da Doutrina Espírita, Herculano Pires faz falta nos dias de hoje no combate aos detratores e desvirtuadores que se encontram dentro do próprio movimento. Criticado e perseguido nunca se rendeu, pois sabia que aqueles que o tripudiavam não haviam entendido verdadeiramente o que é o Espiritismo.

Nesta entrevista Herculano discorre com explicações impecáveis. Com equilíbrio e sabedoria responde às perguntas a ele dirigidas esclarecendo de modo destemido as questões capciosas. Brilhante explanação sobre o que é o Espiritismo, sobre a mediunidade, sobre Jesus e a misericórdia divina. Precisamos de outros Herculanos no movimento Espírita brasileiro, precisamos de estudiosos e pesquisadores que assim como Herculano tenham a coragem de lutar contra as contradições que se fazem presentes na Doutrina. Para isso é preciso responsabilidade e integridade em relação aos estudos, levando a efeito a advertência deixada por Kardec no Projeto 1886: a necessidade de cursos regulares de Espiritismo a fim de que os princípios da Ciência Espírita se desenvolvam e a propagação do gosto pelos estudos sérios formando adeptos esclarecidos.






segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

O meu olho é ruim porque o seu é bom?



Por que  vês tu, pois o argueiro no olho do teu irmão, e não vês a trave no teu olho? 
Mateus, 7: 3-5.




      As palestras espíritas são um meio para a divulgação da Doutrina e por isso mesmo, é uma mensagem que deve ser transmitida equilibradamente, de forma que, os que estiverem tomando contato pela primeira vez com o Espiritismo, possam ter um entendimento inicial satisfatório.

Por se tratar de uma aula, deve ser bem elaborada, dando ao orador a oportunidade de interagir com a assistência e promover esclarecimentos.

         Porém, temos visto o púlpito espírita ser utilizado por palestrantes para explanar insatisfações pessoais, fazer campanha política, “lavar a roupa suja” com os companheiros da casa, difamar e agredir até mesmo a quem não frequenta o centro.

         Palestrantes que se acham profundos conhecedores da Doutrina Espírita, mas que nunca leram nem mesmo o Evangelho Segundo o Espiritismo, que gostam de serem tratados como irmãos em Cristo, convencidos de que estão em posição de destaque, sentem-se no direito de apontar o dedo, ao que à priori julga ser negativo.

         Assim com um PowerPoint filosoficamente ilustrado, fazem referências a coisas e pessoas que são chamadas de embusteiras, caloteiras e farsantes.

         Amai-vos e Instrui-vos, ensina o Espiritismo, mas ao que tudo indica, estamos passando longe, bem longe do real entendimento desta chamada de atenção...

         Não temos o direito de citar nomes, sejam de pessoas ou empresas e ainda mais sem um conhecimento real a respeito do outro e utilizando adjetivos que desqualificam de forma absolutamente acintosa como se estivéssemos completamente incólumes de sermos também apontados como embusteiros.

         Além de ser uma tremenda falta de caridade, é imoral sendo também algo passível a um processo judicial por calúnia e difamação. Lembremos, quando apontamos um dedo a outrem, temos três voltados para nós...

         Não temos condições de mensurar as razões alheias e julgar sem conhecimento de causa é passar atestado de incompetência. Além disso, queremos justificar nossos erros afirmando que ainda não aprendemos a ser tolerantes... Ora de certa forma, utilizamos o mesmo desculpismo de outrora para dar embasamento legal às nossas ações bizarras, de que “a carne é fraca”.

         Se quisermos realmente amor e instrução em nossas vidas, aprendamos enquanto é tempo a sermos sujeitos espirituais autênticos. Coloquemo-nos no lugar do outro e tentemos entender a sua visão de mundo. Busquemos pensar como ele, ver a vida como ele a vê, perceber seus limites e conhecimentos, os seus porquês e experiências. Desta forma, talvez tenhamos condições de perceber que com o mesmo arcabouço cultural e espiritual, agiríamos igual ou talvez pior.

         Mas, a sede de demonstração de poder e conhecimento ultrapassam as fronteiras do bom senso, pois além da utilização irracional dos mecanismos que deveriam servir para construir, utilizam-se também das redes sociais com a mesma intenção maléfica.

         No centro Espírita os aplausos inflam os egos, no mundo virtual o “like/gosto/curtir” e comentários favoráveis tem a mesma função: dar razão ao irracional que se julga superior.

         Análises unilaterais e desprovidas de lucidez e emoção equilibrada. Se quisermos corrigir o outro, comecemos por nós mesmos.

         Para o bem da verdade, não sabemos nada que possa nos dar subsídios para ostentarmos o título de sábios, mesmo que laureados por um PhD. O conhecimento de ninguém está pronto e acabado, todos nós aprendemos a cada dia um pouco mais, uns com os outros. O conhecimento é uma construção que acompanha o progresso do Espírito, portanto, mais humildade e menos orgulho.  Atentemos para o ditado popular: cautela e caldo de galinha, não fazem mal a ninguém.
          
          

sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Programa No Limiar do Amanhã



Na década de 70 (Século XX), o Grupo Espírita Emmanuel  produziu o programa radiofônico No Limiar do Amanhã, apresentado pelo professor Herculano Pires, onde este respondia as perguntas dos ouvintes de modo profundo e lúcido.

      Confira o trecho de um dos programas no qual Herculano faz uma comparação entre André Luiz e Ramatis. 






         


quarta-feira, 20 de janeiro de 2016



Quando falamos em fé, nos reportamos a símbolos que dentro da nossa tradição cultural,  nos foram impostos desde a infância e em vidas pregressas alguns estivemos à frente de ideologias religiosas obrigando a sua aceitação de forma violenta.

Na conjuntura católica esses símbolos são representados pelos credos, orações, confissão, entre outros que são as bases para a catequese, considerados como ponto principal da educação cristã.  A história nos mostra que essa fé, que fora preconizada como preceito indiscutível foi responsável por atrocidades, mas também pelos chamados milagres.

Mas afinal, porque existe a fé? O que significa ter fé? Porque a fé se transforma em fanatismo?

Estudiosos alegam que a fé nunca esteve ligada à razão, pois sendo racional, ela não poderia fluir entre as pessoas de pouca cultura. Em Depois da Morte, Léon Denis afirma que ninguém adquire fé se não tiver passado pelas tribulações da dúvida ou mesmo sem ter padecido angústias e que a fé é aquele sentimento que arrebata e anima de forma convicta e não simplesmente uma mera crença em dogmas religiosos. Para Tomás de Aquino, a fé é sabedoria máxima, porque eleva o pensamento para o Superior.

Porém o que vemos comumente, como manifestação de fé, é mesmo a crença nos dogmas aceitos como verdadeiros.  Esta é a fé cega, que leva o individuo a tornar-se fanático e perigoso por promover o sentimento de conformismo e ao mesmo tempo combativo contra os que julgar infiéis.

 O conformismo leva também o homem a colocar todos os acontecimentos de sua vida nas mãos de Deus. Tudo o que lhes ocorre é “porque Deus quis”. Na grande maioria das vezes, os conformistas não se lembram de dizer, em situações positivas, que elas ocorreram porque Deus assim o quis.

Julga-se entretanto, que na Doutrina Espírita, por encontrarmos de forma clara e objetiva o ensinamento sobre a fé raciocinada, a que tem sua base na verdade, que refuta a mentira e a ilusão que o desequilíbrio em torno desse sentimento, possivelmente, não existiria... Oh, quanto nos enganamos, onde há ser humano, há distorções e mesmo nas casas espíritas mais sérias, encontraremos expressões de fé cega.

Ao adentrar a terra brasilis, a Doutrina Espírita não passou incólume ao processo de mistificação, devido ao sincretismo religioso que por aqui já reinava.  Assim, a fé raciocinada, propalada através da Codificação, foi substituída pela falta de raciocínio gravitando ao seu redor o mesmo conformismo e histerismo de outras seitas.

Sem optar pelo discernimento, muitos dirigentes espíritas pregam uma emotividade doentia para legitimar o que chamam de manifestação de fé. Como apregoou Voltaire em O túmulo do Fanatismo, quase todos os que se colocam à frente de seitas, e podemos dizer, ditando regras e comportamentos, tem como objetivo dominar e enriquecer. A questão do lucro, no caso dos espíritas, vem escamoteada pelo discurso da caridade e do distanciamento das coisas materiais.

A transformação do Espiritismo em mais uma religião vem estimulando ações sem nenhuma noção de razoabilidade. Se uma das principais características da Doutrina é a fé raciocinada e consequentemente a capacidade de meditar e recusar as inverdades cunhadas pelo dogmatismo, essa essência foi perdida ao se aderir às superstições que de acordo com Voltaire, são contrárias à capacidade de racionalidade do homem.

         O que temos nas casas espíritas são manifestações de mitos e ritos sem nenhum fundamento, tal os utilizados pelas religiões no passado a fim de estabelecer dogmas e dominar os fiéis que uma vez manipulados, passavam a repetir esses mesmos ritos sem questionar o que era a fé.

Em torno da confusão que se instaurou, a falta de estudos sobre o significado do que seja o dogma, leva os espíritas a classificarem sua fé desordenada em fé raciocinada simplesmente por esse termo ter sido estabelecido por Allan Kardec em seus estudos.

A fé é um sentimento profundo, porém simples. Não se reveste de alegorias e nem necessita de representantes. É algo que vem da consciência, ela é perseverante e reflete sobre a veracidade de seu objeto de crença. Como bem dito por Kardec, “fé inabalável é a que encara a razão frente a frente em todas as épocas da Humanidade” e por isso é uma fé que transcende a banalidade e picuinhas dos seres.

A fé existe pela necessidade do homem em acreditar em alguma coisa que o sustente, principalmente em seus momentos de agonia. Ter fé é não duvidar, mas a fé ultrapassa os sentidos do passivo, mas quando o acreditar perde o crivo da razão e torna-se irracional, surge o fanatismo.

Sabemos que os espíritos influenciam em nossas vidas e conforme resposta dada a Kardec, muito mais do que pensamos e geralmente nos conduzem. Porém, atribuir aos espíritos todos os acontecimentos, seguramente é uma ação fanática. Ainda contamos com os que repudiam companheiros por eles não acreditarem que não se pode comer frango no último dia do ano, pois segundo a crença, a vida dará para trás no ano novo, pelo simples fato de que o frango cisca para trás...

A fé cega, fanática ocorre quando a ilusão se instala originária pela ignorância. Sem a mente predisposta ao conhecimento, a capacidade de pensar é anulada, sendo mesmo bloqueada.

As manifestações pavorosas de fé têm levado a desavenças entre os espíritas. De um lado, os que seguem religiosamente as convicções ritualísticas e de outro, os que discordam da panaceia instaurada em nome de Deus e que ainda leva o nome de espírita.

Os equívocos e absurdos se sucedem sob a justificativa da fé e como no passado, travestidos de soldados de cristo vemos confrades imporem seus pontos de vistas pessoais com o discurso que lutam por uma causa superior.

Fruto de um comportamento limitado, a fé cega é a principal originária da intolerância. Apesar dos espíritas falarem contra as intolerâncias, esquecem-se facilmente das orientações norteadoras ao bom senso a que o Espiritismo nos conclama  e tornam-se intolerantes quando suas idéias são questionadas à luz da razão. E neste contexto, fogem ao diálogo e tentam provar a qualquer preço a veracidade de seus argumentos, nem que seja com o uso da força física, da agressão verbal ou até mesmo fazendo uso da maledicência.



sábado, 16 de janeiro de 2016

Os vícios dos espíritas II



         No seguimento da insensatez levada a efeito pelos que se dizem espíritas, temos os “donos” dos centros. Esta figura, que tenta, mas não consegue ser modesta, que quer passar uma imagem de honestidade, mas se trai nas atitudes, além dos médiuns e palestrantes estrelas, é um dos grandes entraves ao bom andamento dos trabalhos.

         Mandam, desmandam, invertem a lucidez transformando-a em falta de senso e de praticidade, se sentem com capacidade para coordenar todas as atividades, tiram e colocam quem querem das reuniões, ajudam os que chegam com o intuito de dominar-lhes e deles obter favores pessoais, usam e abusam dos materiais da casa emprestando ou dando a seus pares, isso quando não são direcionados para a sua própria casa.

Justificam a utilização da casa espírita bem como de seus utensílios para uso pessoal, no fato de que foram eles os responsáveis pela edificação da casa, por sua manutenção, muitas vezes sozinhos durante certo tempo, e que foram os principais doadores dos objetos.

         Seguram com mãos de ferro as chaves da casa e são eles que a abrem e fecham e como absurdo pouco é bobagem quando viajam, caem doentes ou tem visitas em casa suspendem as reuniões. No quesito imitação com toda a certeza se espelham na clássica figura de São Pedro detentor das chaves das portas do céu.

         São pessoas controladoras que querem tudo para si e os que a elas não se unem são vistos com desconfiança e por vezes excluídos dos trabalhos da casa.

         As eleições para escolha dos membros dirigentes, não passam de uma farsa, visto que, o “dono” da casa, faz o seu lóbi cercando-se de todas as garantias para sua manutenção no poder. E como é comum nestes ambientes, não se formam chapas de oposição, visto que, os que poderiam assim agir, já foram sumariamente destruídos.

         Não respeitando quem age e pensa de modo diferente, impõem ao núcleo espírita um ritmo de trabalho baseado apenas em sua visão estereotipada do que seja o Espiritismo.

         Em tudo o que seja dito eles veem contrariedades ao seu ponto de vista, que é estritamente pessoal e em nada, nadinha se coaduna com a Doutrina Espírita.

         É interessante notar que os defensores dessa classe de dirigentes, dizem que eles são úteis, pois mantém a casa em funcionamento. Ou seja, não passam também de parasitas que não querem compromisso e logo, é mais cômodo apoiar o erro do que assumir o lugar e trabalhar pela melhora do ambiente.

         Os tais “donos” dos centros sentem-se experientes, alguns por carregar o peso da idade e chegam mesmo a dizer que não há ninguém com competência suficiente para substituí-los.

         Esquecem-se, todavia que idade não simboliza experiência e muito menos competência e que, portanto, não possuem a qualificação necessária para ocuparem cargos de liderança, pois lhes falta, além de outras habilidades a humildade e a capacidade de convivência com o diferente.

         Viciados mais nos fenômenos do que na própria doutrina; viciados pelo poder; viciados por mandar. Arvorados em missionários do bem, destroem os padrões doutrinários pelo orgulho e falta de vigilância que lhes são características.

         Sempre dispostos a anular os de boa vontade com o ácido da critica e não satisfeitos em espalhar seus petardos dentro da casa espírita, predispõem-se a difamar os que julga serem seus desafetos na comunidade ao redor do núcleo espírita. São incapazes de evitar os atritos, pois via de regra, são eles quem os promovem.

         Esses “donos” de centros espíritas desestimulam e levam muitas pessoas a desistirem do Espiritismo por julgar que seja mais uma seita de fanáticos e de chefões.

Não há neles a consciência de fraternidade ou mesmo de altruísmo cristão, agem por impulso, melindram-se por qualquer motivo impondo regras e obstáculos a todos que tentem articular alguma atividade que lhes fuja das mãos. Esquecem que a Casa Espírita não tem dono e mesmo que tenham fundado e doado objetos para sua composição, é uma instituição pública a serviço do Espiritismo.

Impondo ideologias caducas e extravagantes fazem o papel de desorientadores daqueles que chegam à procura de consolo. Casa Espírita em que não há o esclarecimento dentro dos postulados codificados por Kardec demarca sua falência. Os que enxergam os desregramentos precisam tomar providências contra o estado degradante confinado ao ambiente onde deveria reinar a harmonia, o conhecimento e o bem-estar.

A Casa Espírita, conforme relata André Luiz em Os Mensageiros capítulo 34, pertence a todos os cooperadores fiéis ao serviço cristão. Mas, ao analisarmos a situação atual pelo Brasil, chegamos à triste conclusão de que não há espíritas dentro dos centros espíritas e como disse sabiamente Herculano Pires, a mentalidade do evangelismo nas casas espíritas, e aqui acrescentamos também a sede pelo poder, levou a Doutrina a ser invadida por lobos em pele de ovelha, onde as palavras tolerância, fraternidade e paciência são apenas capas para as mazelas imagináveis e inimagináveis.

        

        
        

         

quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Os vícios dos espíritas



Quando se fala em vícios, logo vem à mente processos ligados ao comportamento comum do homem, entretanto, neste espaço vamos abordar alguns vícios ligados ao trabalhador espírita.

Com um processo de dogmatismo e ritualismo impregnados até a alma, frutos de uma cultura religiosa católica inserida na Doutrina Espírita quando esta começou a desenvolver-se no Brasil, que em união às outras manifestações religiosas legou-nos um exacerbado misticismo.

A possibilidade de falar com os mortos e manter vivo o dogma dos santos e da salvação da alma encantaram os que aderiam ao Espiritismo e não tardou  o endeusamento de espíritos que traziam mensagens bonitas, escritas ou faladas, e que tocavam o mais modesto dos egos. Logo, a crença de que estes são espíritos enviados por Deus para guiar os homens na Terra tomou conta das mentes incautas que ainda nos dias atuais, se estonteiam de prazer ao ouvir o que chama de espírito guia, dizer-lhes que são os mais autênticos e melhores trabalhadores que a Doutrina já tivera. Tão sapientes que poderiam inclusive, reformar o Espiritismo com a mesma capacidade de Kardec.

A Doutrina Espírita não adota altares, mas os espíritas descobriram uma forma de erguê-los: as paredes dos centros encontram-se repletas de fotografias, são verdadeiros painéis votivos dispostos ao culto. 

Retratos de pessoas vivas ou não ao gosto dos que se predisponham à veneração: presidente da casa, amigos desencarnados, figuras católicas como João Paulo II, Madre Tereza de Calcutá e agora também Irmã Dulce, patrocinadores da casa, vultos do espiritismo: Bezerra de Menezes, Sheilla, Cairbar Schutel, Eurípedes Barsanulfo, Divaldo Franco, Francisco Cândido Xavier, André Luiz, Emmanuel, Allan Kardec. A lista é tão extensa quanto fervoroso é o culto, faltando apenas ajoelhar e benzer-se.

Outro vicio é atribuir até mesmo a um espirro, a presença de um obsessor. Ai de quem chegue a um centro, onde o dogmatismo domine com uma dor de barriga ou de cabeça, imediatamente é enviado à desobsessão... Aliás, para os espíritas apegados à obsessão, toda e qualquer pessoa, esteja ela rindo, contrita ou doente já indica que tem um obsessor ou obsessores.

A reunião de desobsessão que deveria servir para o equilíbrio, tanto de encarnados, quanto de desencarnados, tornou-se a catarse coletiva em que encarnados são sempre vitimas e desencarnados, os eternos algozes, banidos para cárceres nos submundos e até mesmo amarrados por entidades consideradas poderosas e que segundo os médiuns da casa, não voltarão a molestar sua vítima.

Médiuns se contorcem, grunhem, batem na mesa, jogam-se ao chão, rodam pela sala... Tudo sob o astuto olhar do dirigente que aplaude o espetáculo e reitera, em pleno século XXI, que ali se encontra os melhores médiuns da praça.

Não podemos esquecer nesse conjunto, o vicio do passe e da água fluidificada. Estas estão no mesmo patamar de beatitude das entidades, melhor dizendo, bentas. Consideradas sagradas, que curam qualquer mal, não se deve sair do centro sem antes ser ungido, digo, sem tomar o passe, sempre com as mãos espalmadas para cima e se o médium não soprar os ouvidos, alisar o paciente e estiver incorporado o passe não serviu, é considerado fraco e, portanto sem efeito.

 A água fluidificada virou um item comercial, em alguns centros ela é vendida e vem em garrafinha personalizada com o logotipo da casa em um sinal de que a venda de indulgências não ficou no passado.

Achando pouca toda esta paranoia, inauguramos a era dos tratamentos onde toda atividade da casa se volta para a mesma temática, nos quais médiuns tentam toscamente imitar Arigó.

 Os tratamentos recebem nomes diversos, mas todos tem a mesma linha de trabalho: fluidoterapia, passe espiritual, evagelhoterapia, cromoterapia, tratamento dos chakras e o que pode ser o mais interessante de todos, a cirurgia do perispírito, na qual, o perispírito é retirado do paciente para submeter-se ao tratamento cirúrgico e depois, fantasticamente recolocado de volta em seu dono.

Estes tratamentos são vips e altamente recomendados pelos médiuns e dirigentes que se encontram à frente destes trabalhos e tem ligação direta à desobsessão, o problema é que estes trabalhadores não percebem que eles deveriam ser os primeiros e principais pacientes de uma desobsessão.

A leitura do Evangelho, sem a interpretação e entendimentos necessários ao progresso do espírito praticamente não existe nas casas com estas características e não há recomendação deste aos frequentadores. Mas, as pomadas e receitas de chás e homeopatias são distribuídas sem constrangimentos para quem dá e para quem recebe que sai do centro com a mesma ostentação dos fiéis que no passado recebiam dos religiosos pedaços de roupas que diziam ser uma relíquia sagrada pertencente ao Cristo.

Como podemos classificar esse comportamento dos que se dizem espíritas se o Espiritismo não impõe regras, dogmas e não prega ritualismos?

Os mais afoitos dirão que isso é uma exteriorização das experiências de uma vida passada, porém, estamos hoje vivenciando a Doutrina Espírita e, portanto precisamos ter a hombridade de respeitá-la.  Em analogia a Fernando Pessoa, estudar é preciso tanto quanto navegar, e só o estudo para alertar sobre esse processo de supervalorização das sombras em detrimento dos valores espirituais positivos.

Espírita que não estuda não deveria considerar-se como tal, mas apenas como um mero aspirante, pois este comportamento vicioso demonstra contradição com os princípios do Espiritismo.  Nada tem de revolucionário este comportamento, assim como prega a Doutrina, pois apenas repete formulas do passado dando a elas o nome de espírita.

O engodo é levado a efeito com o intuito de endeusar médiuns e dirigentes que se utilizam do Espiritismo para aparecer socialmente e obter favores pessoais. Os caras de pau ainda alardeiam publicamente que tudo o que fazem é pelo bem das pessoas e pela divulgação do Espiritismo. Sem dúvidas, o Espiritismo não precisa de uma divulgação que o destrata, desvirtua e leva-o ao descrédito.

Somos todos aprendizes é certo, mas cruzar os braços aos estudos da codificação que nos leva a conhecer e entender a Doutrina e abarrotar as casas espíritas de invencionices e achismos numa mistureba religiosa fanática e ritualística é faltar ao compromisso com a causa espírita que deve e precisa ser divulgada de modo coerente e organizada.

Sem o equilíbrio necessário as conveniências pessoais aliadas à insensatez transformam a Doutrina Espírita em mais uma seita anárquica de alienados.

         No capítulo XVII, item Os bons espíritas de o Evangelho Segundo o Espiritismo, os espíritos advertem que há os que acreditam nas manifestações, mas não compreendem as consequências, nem o alcance moral ou mesmo que tenha a compreensão não aplicam a si mesmos, e isto não se atribui a uma falta de clareza da Doutrina, pois esta não contém alegorias e nem figuras que possam dar margem a falsas interpretações. 


Logo, devem-se esses fatos a entendimentos pessoais, como disse Kardec em Obras Póstumas, a ignorância das Leis leva o homem a procurar causas fantásticas para os fenômenos que não compreende e estas são as bases das superstições que são atribuídas aos fenômenos espíritas.