segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará (João 8:32)



A frase que dá título a este artigo é bastante conhecida no meio espírita, porém, como conhecimento e entendimento não andam de braços dados, a distância entre um e outro é larga.
O conhecimento da verdade, de acordo com Nietzsche, só aconteceria quando o homem eliminasse as concepções pré-concebidas e reelaborasse seu pensamento sem as influências maniqueístas. Este processo, portanto, deveria levar o homem a perceber que grande parte de suas crenças foram impostas e que elas não faziam sentido algum. Esse método de desconstrução foi denominado por Nietzsche como niilismo libertador.
Como adeptos do Espiritismo, deveríamos estar atentos à questão do maniqueísmo e não nos deixarmos levar pelos muitos “ismos”, entre estes, as crenças pessoais que solapam a Doutrina Espírita transformando-a em uma ramificação do catolicismo. Podemos chegar ao disparate e afirmar que como bons espíritas, somos excelentes católicos.
O majestoso Herculano Pires clamava de modo veemente aos espíritas sensatos, algo que parece em falta no nosso movimento, que se posicionassem contra a avalanche de absurdos que invadiam a Doutrina Espírita e que abrissem a boca em alto e bom som explanando a verdade mesmo que doesse a quem quer que fosse.
Hoje no plano espiritual, certamente Herculano encontra-se perplexo, pois não só percebeu, de forma clara, conforme dito acima, que espíritas sensatos parecem ser artigo em falta no movimento como também pelo fato de ver que os que se dizem “espíritas” encontram-se nas redes sociais não só reafirmando os discursos irracionais como também repassando imagens de santinhos, anjinhos, procissões e correntes para atrair bênçãos e dinheiro e ainda por cima envoltas num manto ameaçador, pois quem se recusa a compartilhar terá cem anos de azar... Isso para não falar no comércio de escapulários de prata com retratos de Kardec, Chico e Bezerra. Catolicizou-se o Espiritismo, eis alguns dos nossos dogmas.
Onde está o conhecimento da verdade preconizado por Kardec? A falta de conhecimento e de entendimento devido às interpretações esdrúxulas é o verdadeiro farnel da ignorância, grandes causadores das intolerâncias e de rupturas no movimento espírita.
Kardec foi explícito ao explicar o que é o Espiritismo, mas como o hábito de trocar a leitura que traria o conhecimento verdadeiro, Kardec, por um romance água com açúcar com selo de psicografia é o que movimenta as mentes incautas, a verdade permanece nas sombras e assim permanecerá, enquanto os espíritas sensatos não levantarem a voz contra o tsunami de sofismas que se fazem presentes no meio espírita e ainda com direito a logomarca made in brazil para exportação.
Estamos verdadeiramente na caverna de Platão onde o único conhecimento aceito é o dos espectros na parede e aquele que se atreve a libertar-se e proclamar a verdade é repudiado tendo que esconder-se devido ao linchamento moral.
Vejamos algumas explicações, dadas por Allan Kardec, desconhecidas para alguns e escondidas por muitos no movimento espírita devido a interesses pessoais espúrios.
Na Revista Espírita de 1868, no discurso proferido por Allan Kardec, p. 491, cujo trecho transcrevemos abaixo encontramos: 
“Por que, então, temos declarado que o Espiritismo não é uma religião? Em razão de não haver senão uma palavra para exprimir duas idéias diferentes, e que, na opinião geral, a palavra religião é inseparável da de culto; porque desperta exclusivamente uma idéia de forma, que o Espiritismo não tem. Se o Espiritismo se dissesse uma religião, o público não veria aí mais que uma nova edição, uma variante, se se quiser, dos princípios absolutos em matéria de fé; uma casta sacerdotal com seu cortejo de hierarquias, de cerimônias e de privilégios;[...]”
E mais, na Revista Espírita de 1864, p. 270: “[..] Quem primeiro proclamou que o Espiritismo era uma religião nova, com seu culto e seus sacerdotes, senão o clero? Onde se viu, até agora, o culto e os sacerdotes do Espiritismo? Se algum dia tornar-se uma religião, é o clero que o terá provocado.”
Para os que ainda não se deram por satisfeitos, tomemos um trecho de O que é o Espiritismo, no diálogo entre Kardec e o padre no capítulo primeiro, quando este pergunta a Kardec se há uma fórmula religiosa para as evocações aos espíritos e Kardec responde que certamente haveria um sentimento religioso, porém sem fórmula sacramental, pois para os espíritos o importante é o pensamento, que são chamados em nome de Deus, que se faz apelo aos bons espíritos, porém sabendo da existência dos que ainda se comprazem ao mal e declara, “O que é que tudo isso prova? Que não somos ateus, o que não implica, de forma alguma, que sejamos religiosos.”
Assim, concluímos que há um clero na Doutrina Espírita que a transformou em religião e seus sectários, vem atuando desde o século XIX, quando o Espiritismo aqui surgiu, de forma ativa para manter esse status.
O Espiritismo, caso fosse uma religião, perderia seu caráter Universalista, pois assim o sendo concebe-se que congregue todos os sentimentos de religiosidade. O Espiritismo é uma Ciência e ciência não se ocupa com dogmas; é uma Filosofia de consequências Morais e, portanto, não religiosas.
Os muitos “ismos” que encontramos na Doutrina não passam de falácias e pieguismo de uma religiosidade implantada sem escrúpulos pelos que se comprazem em manter uma horda de ingênuos que dá lucro financeiro ao estimular suas idéias estapafúrdias.





sábado, 20 de fevereiro de 2016

No Limiar do Amanhã – Programa 120



O grande defensor da Doutrina Espírita, Herculano Pires faz falta nos dias de hoje no combate aos detratores e desvirtuadores que se encontram dentro do próprio movimento. Criticado e perseguido nunca se rendeu, pois sabia que aqueles que o tripudiavam não haviam entendido verdadeiramente o que é o Espiritismo.

Nesta entrevista Herculano discorre com explicações impecáveis. Com equilíbrio e sabedoria responde às perguntas a ele dirigidas esclarecendo de modo destemido as questões capciosas. Brilhante explanação sobre o que é o Espiritismo, sobre a mediunidade, sobre Jesus e a misericórdia divina. Precisamos de outros Herculanos no movimento Espírita brasileiro, precisamos de estudiosos e pesquisadores que assim como Herculano tenham a coragem de lutar contra as contradições que se fazem presentes na Doutrina. Para isso é preciso responsabilidade e integridade em relação aos estudos, levando a efeito a advertência deixada por Kardec no Projeto 1886: a necessidade de cursos regulares de Espiritismo a fim de que os princípios da Ciência Espírita se desenvolvam e a propagação do gosto pelos estudos sérios formando adeptos esclarecidos.