A frase que dá título a
este artigo é bastante conhecida no meio espírita, porém, como conhecimento e
entendimento não andam de braços dados, a distância entre um e outro é larga.
O conhecimento da
verdade, de acordo com Nietzsche, só aconteceria quando o homem eliminasse as
concepções pré-concebidas e reelaborasse seu pensamento sem as influências
maniqueístas. Este processo, portanto, deveria levar o homem a perceber que
grande parte de suas crenças foram impostas e que elas não faziam sentido
algum. Esse método de desconstrução foi denominado por Nietzsche como niilismo libertador.
Como adeptos do
Espiritismo, deveríamos estar atentos à questão do maniqueísmo e não nos
deixarmos levar pelos muitos “ismos”,
entre estes, as crenças pessoais que solapam a Doutrina Espírita
transformando-a em uma ramificação do catolicismo. Podemos chegar ao disparate
e afirmar que como bons espíritas, somos excelentes católicos.
O majestoso Herculano
Pires clamava de modo veemente aos espíritas sensatos, algo que parece em falta
no nosso movimento, que se posicionassem contra a avalanche de absurdos que
invadiam a Doutrina Espírita e que abrissem a boca em alto e bom som explanando
a verdade mesmo que doesse a quem quer que fosse.
Hoje no plano
espiritual, certamente Herculano encontra-se perplexo, pois não só percebeu, de
forma clara, conforme dito acima, que espíritas sensatos parecem ser artigo em
falta no movimento como também pelo fato de ver que os que se dizem “espíritas”
encontram-se nas redes sociais não só reafirmando os discursos irracionais como
também repassando imagens de santinhos, anjinhos, procissões e correntes para
atrair bênçãos e dinheiro e ainda por cima envoltas num manto ameaçador, pois quem
se recusa a compartilhar terá cem anos de azar... Isso para não falar no
comércio de escapulários de prata com retratos de Kardec, Chico e Bezerra.
Catolicizou-se o Espiritismo, eis alguns dos nossos dogmas.
Onde está o
conhecimento da verdade preconizado por Kardec? A falta de conhecimento e de
entendimento devido às interpretações esdrúxulas é o verdadeiro farnel da ignorância,
grandes causadores das intolerâncias e de rupturas no movimento espírita.
Kardec foi explícito ao
explicar o que é o Espiritismo, mas como o hábito de trocar a leitura que
traria o conhecimento verdadeiro, Kardec, por um romance água com açúcar com
selo de psicografia é o que movimenta as mentes incautas, a verdade permanece nas
sombras e assim permanecerá, enquanto os espíritas sensatos não levantarem a
voz contra o tsunami de sofismas que se fazem presentes no meio espírita e
ainda com direito a logomarca made in brazil
para exportação.
Estamos verdadeiramente
na caverna de Platão onde o único conhecimento aceito é o dos espectros na
parede e aquele que se atreve a libertar-se e proclamar a verdade é repudiado
tendo que esconder-se devido ao linchamento moral.
Vejamos algumas
explicações, dadas por Allan Kardec, desconhecidas para alguns e escondidas por
muitos no movimento espírita devido a interesses pessoais espúrios.
Na Revista Espírita de
1868, no discurso proferido por Allan Kardec, p. 491, cujo trecho transcrevemos
abaixo encontramos:
“Por
que, então, temos declarado que o Espiritismo não é uma religião? Em razão de
não haver senão uma palavra para exprimir duas idéias diferentes, e que, na
opinião geral, a palavra religião é inseparável da de culto; porque desperta
exclusivamente uma idéia de forma, que o Espiritismo não tem. Se o Espiritismo
se dissesse uma religião, o público não veria aí mais que uma nova edição, uma
variante, se se quiser, dos princípios absolutos em matéria de fé; uma casta
sacerdotal com seu cortejo de hierarquias, de cerimônias e de privilégios;[...]”
E mais, na Revista
Espírita de 1864, p. 270: “[..] Quem
primeiro proclamou que o Espiritismo era uma religião nova, com seu culto e
seus sacerdotes, senão o clero? Onde se viu, até agora, o culto e os sacerdotes
do Espiritismo? Se algum dia tornar-se uma religião, é o clero que o terá
provocado.”
Para os que ainda não se deram por satisfeitos,
tomemos um trecho de O que é o Espiritismo,
no diálogo entre Kardec e o padre no capítulo primeiro, quando este pergunta
a Kardec se há uma fórmula religiosa para as evocações aos espíritos e Kardec
responde que certamente haveria um sentimento religioso, porém sem fórmula
sacramental, pois para os espíritos o importante é o pensamento, que são
chamados em nome de Deus, que se faz apelo aos bons espíritos, porém sabendo da
existência dos que ainda se comprazem ao mal e declara, “O que é que tudo isso prova? Que não somos ateus, o que não implica,
de forma alguma, que sejamos religiosos.”
Assim, concluímos que há
um clero na Doutrina Espírita que a transformou em religião e seus sectários,
vem atuando desde o século XIX, quando o Espiritismo aqui surgiu, de forma
ativa para manter esse status.
O Espiritismo, caso
fosse uma religião, perderia seu caráter Universalista, pois assim o sendo
concebe-se que congregue todos os sentimentos de religiosidade. O Espiritismo é
uma Ciência e ciência não se ocupa com dogmas; é uma Filosofia de consequências
Morais e, portanto, não religiosas.
Os muitos “ismos” que encontramos na Doutrina não
passam de falácias e pieguismo de uma religiosidade implantada sem escrúpulos pelos
que se comprazem em manter uma horda de ingênuos que dá lucro financeiro ao
estimular suas idéias estapafúrdias.