As
religiões em si pregam a existência de uma incompatibilidade com o Espiritismo.
Para elas, não há possibilidade de se proferir uma fé e acreditar na existência
de espíritos, na reencarnação ou mesmo na imortalidade da alma. Expressam que
duas concepções não podem ocupar o mesmo lugar na mente do fiel, e nas
alegações promovem o Espiritismo a um sistema anticristão.
Seria
realmente impossível professar duas concepções caso fosse, o Espiritismo, uma
religião institucionalizada, com ritos e dogmas, um cortejo de hierarquias e
cerimônias conforme explica Kardec em artigo da Revista Espírita (1868, p. 491).
O
Espiritismo é uma doutrina de tríplice aspecto: ciência experimental, doutrina
filosófica e moral. Como ciência não se ocupa de dogmas e como filosofia possui
consequências morais e não religiosas. Proclama a liberdade de consciência como
um direito natural, combate a fé cega que leva o homem a perder o crivo da
razão e do bom senso e não impõe a quem quer que seja que para acreditar em
seus princípios tenha que se despir de suas crenças. Para Kardec, a comunhão de
pensamentos, em torno de crenças, seria fundamental para legar à humanidade
ações e efeitos evolutivos, a partir da harmonia e da emanação de fluidos
benéficos por ser a Doutrina Espírita universalista e por isso mesmo congregar
todos os sentimentos religiosos.
Kardec
(2008, p. 298),alerta para a implantação da fraternidade e diz que esta é a
base para uma nova ordem, tendo como pilar a fé inabalável, não focada em
dogmas, mas em princípios relevantes: Deus, alma, o futuro, o progresso
individual indefinido, a perpetuidade das relações entre os seres quando os
homens estiverem convencidos de que Deus é o mesmo para todos. De acordo com o
entendimento, percebe-se que a incompatibilidade professada entre os credos
parte essencialmente da ignorância dos homens sobre a natureza de Deus, que os
leva a reduzir a existência a uma luta entre deuses de diversas religiões.
Quando, portanto houver o entendimento de que os rótulos são puramente fantasia
para a perpetuação do maniqueísmo, haverá a compreensão de que temos um único
Pai e um único Mestre.
Léon
Denis, no cap. XI de No Invisível
(2008), ao ratificar a universalidade da Doutrina Espírita, esclarece que aos
poucos as religiões irão congregar os conceitos fundamentais do Espiritismo e
ficarão tão semelhantes que não haverá como diferenciá-las umas das outras,
pouco importando qual se seguirá, pois haverá uma relação equilibrada entre
elas, em seus conceitos de vida e espiritualidade e a união de pensamentos e
ações pelo bem universal será uma realidade incontestável, conforme pensava
Kardec.
A união de pensamentos e a fraternidade, base para a fé inabalável, começa a se
tornar fato real. No dia 24 de abril de 2016, o companheiro do Observatório de
Pedagogia Espírita, Orlando Moura, ordenou-se diácono da Igreja Católica Livre,
uma variante da Igreja Romana, porém sem laços com esta última, ainda arraigada
a ritos e dogmas, mas livre da imposição do celibato, do uso da cruz e das
imagens e comungando dos princípios da Doutrina Espírita.
Essa
ordenação foi um marco para o movimento espírita da cidade de Santo Antônio de
Jesus, no Recôncavo baiano, visto que a cerimônia foi realizada em uma casa
espírita, pelo bispo e demais representantes da Igreja Livre e com a presença
de espíritas, católicos, evangélicos e adeptos da Igreja Messiânica. Eis o
Espiritismo como o futuro das religiões.
REFERÊNCIAS
DENIS,
Léon. No invisível (1911). Disponível
em: http://bit.ly/noinvisivel-leondenis. Acesso abril 2016. pp. 92-98
KARDEC,
Allan. Obras Póstumas. 2. ed. Rio de
Janeiro: CELD, 2010.
KARDEC,
Allan. A Gênese. Rio de Janeiro:
CELD, 2008.
KARDEC,
Allan. Revista Espírita. Jornal de
Estudos Psicológicos. 11º ano, 1868, p. 491.