quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Os vícios dos espíritas



Quando se fala em vícios, logo vem à mente processos ligados ao comportamento comum do homem, entretanto, neste espaço vamos abordar alguns vícios ligados ao trabalhador espírita.

Com um processo de dogmatismo e ritualismo impregnados até a alma, frutos de uma cultura religiosa católica inserida na Doutrina Espírita quando esta começou a desenvolver-se no Brasil, que em união às outras manifestações religiosas legou-nos um exacerbado misticismo.

A possibilidade de falar com os mortos e manter vivo o dogma dos santos e da salvação da alma encantaram os que aderiam ao Espiritismo e não tardou  o endeusamento de espíritos que traziam mensagens bonitas, escritas ou faladas, e que tocavam o mais modesto dos egos. Logo, a crença de que estes são espíritos enviados por Deus para guiar os homens na Terra tomou conta das mentes incautas que ainda nos dias atuais, se estonteiam de prazer ao ouvir o que chama de espírito guia, dizer-lhes que são os mais autênticos e melhores trabalhadores que a Doutrina já tivera. Tão sapientes que poderiam inclusive, reformar o Espiritismo com a mesma capacidade de Kardec.

A Doutrina Espírita não adota altares, mas os espíritas descobriram uma forma de erguê-los: as paredes dos centros encontram-se repletas de fotografias, são verdadeiros painéis votivos dispostos ao culto. 

Retratos de pessoas vivas ou não ao gosto dos que se predisponham à veneração: presidente da casa, amigos desencarnados, figuras católicas como João Paulo II, Madre Tereza de Calcutá e agora também Irmã Dulce, patrocinadores da casa, vultos do espiritismo: Bezerra de Menezes, Sheilla, Cairbar Schutel, Eurípedes Barsanulfo, Divaldo Franco, Francisco Cândido Xavier, André Luiz, Emmanuel, Allan Kardec. A lista é tão extensa quanto fervoroso é o culto, faltando apenas ajoelhar e benzer-se.

Outro vicio é atribuir até mesmo a um espirro, a presença de um obsessor. Ai de quem chegue a um centro, onde o dogmatismo domine com uma dor de barriga ou de cabeça, imediatamente é enviado à desobsessão... Aliás, para os espíritas apegados à obsessão, toda e qualquer pessoa, esteja ela rindo, contrita ou doente já indica que tem um obsessor ou obsessores.

A reunião de desobsessão que deveria servir para o equilíbrio, tanto de encarnados, quanto de desencarnados, tornou-se a catarse coletiva em que encarnados são sempre vitimas e desencarnados, os eternos algozes, banidos para cárceres nos submundos e até mesmo amarrados por entidades consideradas poderosas e que segundo os médiuns da casa, não voltarão a molestar sua vítima.

Médiuns se contorcem, grunhem, batem na mesa, jogam-se ao chão, rodam pela sala... Tudo sob o astuto olhar do dirigente que aplaude o espetáculo e reitera, em pleno século XXI, que ali se encontra os melhores médiuns da praça.

Não podemos esquecer nesse conjunto, o vicio do passe e da água fluidificada. Estas estão no mesmo patamar de beatitude das entidades, melhor dizendo, bentas. Consideradas sagradas, que curam qualquer mal, não se deve sair do centro sem antes ser ungido, digo, sem tomar o passe, sempre com as mãos espalmadas para cima e se o médium não soprar os ouvidos, alisar o paciente e estiver incorporado o passe não serviu, é considerado fraco e, portanto sem efeito.

 A água fluidificada virou um item comercial, em alguns centros ela é vendida e vem em garrafinha personalizada com o logotipo da casa em um sinal de que a venda de indulgências não ficou no passado.

Achando pouca toda esta paranoia, inauguramos a era dos tratamentos onde toda atividade da casa se volta para a mesma temática, nos quais médiuns tentam toscamente imitar Arigó.

 Os tratamentos recebem nomes diversos, mas todos tem a mesma linha de trabalho: fluidoterapia, passe espiritual, evagelhoterapia, cromoterapia, tratamento dos chakras e o que pode ser o mais interessante de todos, a cirurgia do perispírito, na qual, o perispírito é retirado do paciente para submeter-se ao tratamento cirúrgico e depois, fantasticamente recolocado de volta em seu dono.

Estes tratamentos são vips e altamente recomendados pelos médiuns e dirigentes que se encontram à frente destes trabalhos e tem ligação direta à desobsessão, o problema é que estes trabalhadores não percebem que eles deveriam ser os primeiros e principais pacientes de uma desobsessão.

A leitura do Evangelho, sem a interpretação e entendimentos necessários ao progresso do espírito praticamente não existe nas casas com estas características e não há recomendação deste aos frequentadores. Mas, as pomadas e receitas de chás e homeopatias são distribuídas sem constrangimentos para quem dá e para quem recebe que sai do centro com a mesma ostentação dos fiéis que no passado recebiam dos religiosos pedaços de roupas que diziam ser uma relíquia sagrada pertencente ao Cristo.

Como podemos classificar esse comportamento dos que se dizem espíritas se o Espiritismo não impõe regras, dogmas e não prega ritualismos?

Os mais afoitos dirão que isso é uma exteriorização das experiências de uma vida passada, porém, estamos hoje vivenciando a Doutrina Espírita e, portanto precisamos ter a hombridade de respeitá-la.  Em analogia a Fernando Pessoa, estudar é preciso tanto quanto navegar, e só o estudo para alertar sobre esse processo de supervalorização das sombras em detrimento dos valores espirituais positivos.

Espírita que não estuda não deveria considerar-se como tal, mas apenas como um mero aspirante, pois este comportamento vicioso demonstra contradição com os princípios do Espiritismo.  Nada tem de revolucionário este comportamento, assim como prega a Doutrina, pois apenas repete formulas do passado dando a elas o nome de espírita.

O engodo é levado a efeito com o intuito de endeusar médiuns e dirigentes que se utilizam do Espiritismo para aparecer socialmente e obter favores pessoais. Os caras de pau ainda alardeiam publicamente que tudo o que fazem é pelo bem das pessoas e pela divulgação do Espiritismo. Sem dúvidas, o Espiritismo não precisa de uma divulgação que o destrata, desvirtua e leva-o ao descrédito.

Somos todos aprendizes é certo, mas cruzar os braços aos estudos da codificação que nos leva a conhecer e entender a Doutrina e abarrotar as casas espíritas de invencionices e achismos numa mistureba religiosa fanática e ritualística é faltar ao compromisso com a causa espírita que deve e precisa ser divulgada de modo coerente e organizada.

Sem o equilíbrio necessário as conveniências pessoais aliadas à insensatez transformam a Doutrina Espírita em mais uma seita anárquica de alienados.

         No capítulo XVII, item Os bons espíritas de o Evangelho Segundo o Espiritismo, os espíritos advertem que há os que acreditam nas manifestações, mas não compreendem as consequências, nem o alcance moral ou mesmo que tenha a compreensão não aplicam a si mesmos, e isto não se atribui a uma falta de clareza da Doutrina, pois esta não contém alegorias e nem figuras que possam dar margem a falsas interpretações. 


Logo, devem-se esses fatos a entendimentos pessoais, como disse Kardec em Obras Póstumas, a ignorância das Leis leva o homem a procurar causas fantásticas para os fenômenos que não compreende e estas são as bases das superstições que são atribuídas aos fenômenos espíritas. 

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