quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

O que é ou o que deveria ser o Centro Espírita?



Reportando-nos à história, podemos dizer que o centro espírita tem início em 1858 quando Allan Kardec funda a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, cujos objetivos eram o estudo e a pesquisa sobre a mediunidade.
Relatos dão conta de que o primeiro centro no Brasil surgiu na Bahia em 1865, era o Grupo Familiar de Espiritismo dirigido por Luis Olímpio Teles de Meneses.
A partir desse momento multiplicam-se os grupos em Salvador  e no Rio de Janeiro.  Paralelo ao movimento de fundação de casas espíritas cresce a popularização da Doutrina, com uma evolução em torno do sincretismo religioso que vai dar origem ao misticismo que hoje reina em muitas casas espíritas espalhadas pelo país.
De acordo com Herculano Pires os espíritas não sabem o que é o Centro Espírita e quais suas funções, visto que, a uma rápida observação, percebe-se que cultos sem ligação ao que seja realmente o Espiritismo foram introduzidos. Os núcleos que deveriam ser de estudos com ênfase na educação do espírito voltaram-se para o assistencialismo desenfreado, clientelismo, isolamento em termos de aquisição da cultura espírita, entre outras mazelas que desvirtuam o legado deixado pelos estudos de Kardec.
Seus praticantes e seguidores, são adeptos de um ritualismo que lembra a manipulação religiosa medieval, em torno da salvação da alma, o que demonstra que tem em si, uma total ignorância sobre o Espiritismo e logo, Kardec não passa de um ilustre desconhecido.
Há no Brasil um claro objetivo que é tornar o Espiritismo uma ramificação da igreja, transformando-o de Doutrina que esclarece sobre a necessidade da reforma íntima, que elucida que a vida não se acaba no túmulo em mais uma seita que adormece as mentes formando um séquito de dementes fanatizados.
Raros são os grupos espíritas onde as pessoas vão para aprender, pois criou-se o hábito da contrição imediatista, enlevada pelo pieguismo caritativo que cria necessitados do corpo em detrimento à educação do espírito.
Vemos nas casas espíritas uma verdadeira barganha com Deus em prol da cura do corpo físico. Os que são atendidos fazem doações inclusive financeiras e as quantias que deveriam ser utilizadas para os trabalhos da casa, por vezes tem destino escuso nas mãos de seus dirigentes.
O hábito dos beatos de barganhar com Deus em prol da redenção da alma se repete de modo escandaloso, quando os que se arrependem da falta de fé, resolvem também fazer doações de altas somas para que possam ver abertas as portas do reino dos céus.
Em nada essas práticas tem relação com a Doutrina Espírita que nesses locais se encontra desprezada e encoberta pelo manto de uma cristandade viciante e altamente perigosa para os rumos do Espiritismo no Brasil.
Quando os membros de um núcleo espírita se pautam por um trabalho realmente sério e comprometido com a herança kardequiana, conteúdos de pretensão mística e doações pela salvação não são levados em consideração, porque existe a preocupação com a ponderação inclusive com o exame minucioso de toda e qualquer mensagem que parta do mundo espiritual.
Em toda casa, os seus trabalhadores e frequentadores devem primar por aperfeiçoar a construção moral o que vai lhes garantir que sejam monitorados por espíritos benevolentes, comprometidos com um trabalho de esclarecimento para os que chegam sem conhecimento prévio do que é o Espiritismo e carregando males físicos e espirituais.
Precisamos de trabalhadores que compreendam a verdadeira essência da Doutrina Espírita e que façam a sua divulgação de modo satisfatoriamente mais próximo de seus princípios, sem tantos arroubos emotivos de santificação.
         Pelo que se vê a Doutrina ainda está longe de ser conhecida e ensinada pelos seus próprios seguidores, que fazem das atividades na casa espírita reflexo de seus interesses pessoais, de sua falta de estudos e de sua falta de cultura doutrinária.
Essa confusão não é nova, em seu tempo, Allan Kardec já comentava sobre o trocadilho de idéias e charlatanismo para atacar o Espiritismo, o mais interessante nisso, é que nos dias de hoje, são os próprios adeptos da Doutrina os promotores do charlatanismo e do trocadilho de idéias.
O certo é que, tendo sua função desviada de sua verdadeira vocação, os centros espíritas estão entregues a rezadores e penitentes dispostos a qualquer ação pela remissão dos pecados e das doenças do corpo.
Refúgio de almas desorientadas, deste e do outro lado, disseminam a culpa de tudo e mais alguma coisa nos obsessores sem nenhum compromisso com a verdade espiritual que constantemente é fraudada e desrespeitada pela falta de comprometimento daqueles que deveriam zelar pelo bom nome do Espiritismo.
Mais do que se prestar ao assistencialismo desmedido, o centro espírita é local para o esclarecimento das mentes ainda soterradas no desconhecimento das Leis Divinas, é local para a defesa do Espiritismo contra os embustes que pululam por toda parte, é onde deve estar o estudo sério e consciente sobre os seus conceitos em relação à natureza do homem mostrando que a Doutrina não pede a  ninguém subordinação, troca de favores ou obediência cega.
É o centro espírita responsável por dignificar o ser dando a conhecer que o homem não veio ao mundo para ser martirizado, que seu destino não é sofrer, mas educar-se tendo como objetivo o progresso incutido na pluralidade das existências.

Para os que se interessam pelo assunto e querem conhecer um pouco mais, recomendo a obra O centro Espírita, de Herculano Pires, disponível para download no link abaixo. A todos uma boa leitura!



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