terça-feira, 24 de novembro de 2015

Inimigos desencarnados 2

Na continuidade do estudo sobre os inimigos desencarnados, é forçoso lembrar das influências no meio espírita.

No Evangelho temos o lembrete para não acreditarmos em todos os espíritos, mas para comprovar primeiro se os espíritos são de Deus. Porém, à primeira vista, tal não ocorre.

Em uma rápida rememoração, no ano de 1875, o Espiritismo passou por uma prova de fogo, quando, o então presidente da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, Pierre-Gaëtan Leymarie, que assumira o cargo após a morte de Allan Kardec, fora a julgamento acusado de promover e disseminar fraudes sobrenaturais no famoso acontecimento das fotografias dos espíritos. Neste episódio, estiveram envolvidos além de Leymarie, o fotografo Edouard Isidore Buguet médium de efeitos físicos e o médium americano Firman.

Consta que, antes desse episódio, Leymarie publicou na Revista Espírita, uma série de artigos sobre as fotografias dos espíritos, ilustradas com notas informativas das pessoas que posavam junto às quais aparecia a imagem de um ente querido, parente ou amigo, já desencarnado. Havia uma ânsia de fazer crescer a circulação da revista e Buguet tinha em mente ficar rico com a venda das tais fotografias. Em um dos volumes da Revista Espírita fora publicado a fotografia da viúva de Kardec, Amélie Boudet, na qual segurava uma mensagem e nesta se via a imagem do que seria Allan Kardec em espírito.

Na verdade, todo o processo e também o julgamento, tinham como objetivo levar a Doutrina Espírita ao ridículo. Buguet, condenado a um ano de prisão e multa de 500 francos, fugiu para a Bélgica; Firman, julgado por trapaças, condenado a seis meses de prisão e multa de 300 francos, foi posto em liberdade através de influências políticas e Leymarie, também condenado a um ano de prisão e multa de 500 francos, foi o único que cumpriu toda a pena.

Este episódio pouco conhecido dos espíritas serve de alerta sobre as graves consequências da mediunidade remunerada e também sobre as fraudes mediúnicas, bem como, sobre a necessidade de preparo intelectual e moral dos médiuns e demais trabalhadores da casa espírita, contra a influência das inteligências maléficas, encarnadas e desencarnadas, como também sobre a presunção daqueles que se julgam médiuns notáveis e que por isso não estão sujeitos às más influenciações.

Os sinais da inferioridade moral do médium e demais trabalhadores de uma casa espírita são visíveis, porém, estes, se escondem sob um manto de beatitude. Julgando-se profundos conhecedores da natureza íntima das entidades, bem como inveterados conhecedores da Doutrina, abrem espaço para que o mal se aproxime e se instale disfarçado de cordeiro.

Um prenúncio de que a interferência existe é quando a discórdia chega e reina no núcleo de trabalho. Estendendo-se com tentáculos vigorosos ante a negligência dos encarnados, não demora a acontecer o racha entre os trabalhadores instigados pela desconfiança, que leva ao isolamento, legando a casa a um vazio de frequentadores, de trabalhadores bem intencionados e de espíritos benignos.

Mas, voltando aos sinais que anunciam a tragédia: personalismo, individualismo, egoísmo, preguiça, luxúria, cobiça, gula, ira, inveja e orgulho. Ao manifestarem-se, arrastam os incautos, principalmente os que julgam estarem orientados por bons espíritos e que não aceitam opiniões em contrário.

Da desconfiança vem a intriga, o desânimo, a desmotivação para a continuidade dos trabalhos, o mal estar dos que não aceitam a situação, o desvirtuamento da doutrina com a introdução de modismos como água fluidificada denominada de especial, pois segundo algum médium da casa, os espíritos colocam medicamentos mais fortes para a sustentação física das pessoas.

Em um meio onde a conturbação e as interpretações dos postulados espíritas ficam ao bel prazer de dirigentes e outros trabalhadores o melindre é rei e a entidades infelizes, vivamente de plantão, pegam o incauto naquilo que ele apresenta de “melhor”: aguçam-lhe o amor próprio fazendo com que se apeguem cada vez mais a seus pontos de vista, insuflam a vaidade. É neste ponto, que os espíritas se transformam em verdadeiras legendas como bem explana André Luiz, inacessíveis às mudanças, pois só o pensamento de um é que pode prevalecer, burocratizam as reuniões e esse um, busca congregar todas as atividades da casa para si, por julgar que outro companheiro não tem mérito espiritual suficiente para a execução de determinada tarefa ou que quer confiscar seu cargo.

Afinal o que falta a dirigentes e trabalhadores de um modo em geral nas casas espíritas? Primeiro a humildade de reconhecer que sendo humanos estão sujeitos a todo e qualquer tipo de influência e que não são os donos do mundo; falta meditação para o autoconhecimento, menos arrogância e mais estudo sobre a Doutrina; falta boa vontade para promover uma reforma moral que os levem a fazer da casa espírita um ambiente respeitável.

Allan Kardec adverte em O Livro dos Médiuns que o melhor meio de expulsar os maus espíritos é atrair os bons, para isso é preciso transformação dos sentimentos, aproveitando todas as oportunidades de praticar o bem, entendendo que praticar o bem não é apenas promover assistencialismo através da distribuição de pão e sopa, é abandonar a vaidade, a cólera e auxiliar com amor os que vão em busca de socorro.

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