terça-feira, 24 de novembro de 2015

Inimigos desencarnados

Os inimigos desencarnados, não só nos espreitam como, via de regra, comandam as nossas vidas. Justamente por isso, Allan Kardec perguntou: Influem os Espíritos em nossos pensamentos e em nossos atos?

Muito mais do que imaginais. Influem a tal ponto, que, de ordinário, são eles que vos dirigem. L.E. p. 459.

Durante a Idade Moderna, a igreja reviveu crenças medievais, entre elas a arte de bem morrer. O bem morrer significava para o crente, que sua alma seria salva, pois seus pecados seriam perdoados. Multiplicaram-se nesse período os manuais que ensinavam como viver para que se pudesse bem morrer, mas, por trás dessa salvação, estava um grande mecanismo que envolvia dinheiro e compra de um lugar no paraíso. Acompanhando os manuais, estava a iconografia da morte onde a alma do moribundo era disputada de um lado pelos anjos e por outro pelos demônios.

A Doutrina Espírita veio tirar o véu que pairava sobre essas crenças mostrando que colheremos no futuro de acordo com a nossa plantação no presente e que os inimigos, outrora representado pelo demônio que disputava a alma do futuro defunto, é na realidade a alma dos homens que ainda não alcançou conhecimentos e que permaneceu ligada ao mal. Logo, esse inimigo desencarnado é alguém com o qual tivemos contendas em vidas passadas e que nos alcança no presente exigindo um reajuste e quando o processo de perseguição não é devidamente tratado e o perdão sincero não se faz entre as almas conturbadas, estarão eles à nossa espera quando estivermos na proximidade da morte do corpo físico.

São espíritos ainda presos à matéria, mas que, permanece ao lado de sua pretensa vítima encarnada, por esta recusar-se à mudança necessária, para seu próprio crescimento. As obsessões ocorrem por afinidade energética, e quando não procuramos ocupar nossa mente com coisas que tragam harmonia, deixamos a porta aberta para que desocupados do mesmo quilate se aproximem. Manter a mente vazia, aliás, vazia não, cheia de inutilidades só trará depressão, conflito, pessimismo atraindo para si aqueles que se encontram no mesmo processo mental.

E, não apenas os chamados inimigos do passado nos perturbam. Allan Kardec em O Livro dos Médiuns esclarece que os espíritos ainda afeitos ao mal, assediam as pessoas pelo simples prazer de perturbar-lhes a vida, mesmo sem ter motivos do passado ou do presente. Como respondeu um desses espíritos ao ser inquirido, “Tenho uma necessidade muito grande de atormentar alguém; uma pessoa racional me repeliria; agarro-me a um idiota que não me opõe nenhuma resistência”. L.M. Cap. 23, p. 227.

A ação dos desencarnados sobre encarnados, no início é sutil e como nem sempre é percebida, vai dando origem a doenças imaginárias e que podem se tornar graves e irreversíveis, pois atacam o lado psicológico. Mas também se concretizam em forma de males físicos, visto que, a mente doentia gera o processo para o corpo, ajudado pelo assédio do desencarnado que logrará enviar energias deletérias para determinado órgão, minando as forças do encarnado.

Não existe uma hora pré-determinada para a ação dos desencarnados começar, porém de um processo simples onde a sintonia telepática com o encarnado se ajusta, evolui para um processo de fascinação no qual o invasor vai se tornando íntimo dominando sua vitima. Deste passo para a subjugação não demorará, neste ato, a entidade desencarnada domina totalmente, enfraquecendo o livre-arbítrio do encarnado que perde a lucidez e o discernimento.

Enquanto ainda se encontrava nas primeiras fases, a reforma moral ajudaria bastante a afastar o invasor, entretanto, uma vez instalado um processo de subjugação, ainda há jeito possível, mas assaz demorado, levando o encarnado a sofrer um tempo maior. Diga-se de passagem, alguns casos não tem cura e a pessoa passa a vida entre melhoras e pioras, pois a depender da conjuntura, medicamentos e tratamentos ajudarão a aliviar.

A forma de agir das entidades desencarnadas se dá através de induções diversas que levam a medos e incertezas e algo chama a atenção nos processos obsessivos, o ódio. Segundo Charles Darwin, as raízes do ódio residem na vingança e na defesa dos próprios interesses. Percebe-se assim, que esta, a obsessão, não é uma progressão puramente literal ou mesmo isolada.

As obsessões, portanto ocorrem, por negligência, seja no passado ou no presente. Para que possamos ficar livres do rancor e do autoritarismo do outro, precisamos de uma auto-análise e detectar em nós os processos doentios, como o orgulho, que apontamos no outro. Muitos males e sentimentos infelizes ainda jazem em nós e são por certo, não só o imã para a atração daqueles que se sentem no direito de cobrar reparações a situações do passado, como também é um atrativo para as inimizades feitas no presente que legarão obsessões do mesmo teor em vida futura.

A resolução está na aquisição de conhecimentos edificantes e na mudança de pensamentos e atos, naquilo que convencionamos chamar de Reforma Íntima, pouco compreendida, pouco praticada. Arrisco-me a dizer que, pelo que se vê no movimento espírita atual, bem poucos compreendem o que significa reformar-se e uma parcela ínfima tenta. Falar em perdão todos falam, praticá-lo, um verbo que não se conjuga.

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